Habla Conmigo | Fala Comigo | Talk to Me
Educador, linguista, escritor, estudante de antropologia e mentor de jovens
10 de setembro de 2022
Muitos alunos já passaram por minha sala ao longo da minha carreira, centenas. Observando-os pude notar uma diferença expressiva entre eles: os que se expõe ao idioma com frequência, alcançando a fluência, e os que não se expõe. Estes talvez até se comuniquem, mas geralmente apresentam grande dificuldade na naturalidade ao falar.
Ainda permeia entre os estudantes de idiomas a falsa ideia de que estudando duas horas por semana em uma escola, ou mesmo com um professor particular, ele vai magicamente se tornar fluente. Bom, talvez até aconteça esta magia, mas levará anos e anos, agradando algumas escolas que adoram manter alunos por quase uma década dentro de uma sala de aula. Mas eu, Jeff, estou aqui para te dizer que existe um atalho que o você pode tomar, e ele se chama imersão.
"Língua não é um dom genético, é um dom social. Aprender uma nova língua é tornar-se membro do clube – da comunidade de falantes daquela língua."
Frank Smith
Primeiro vamos definir a palavra imersão. Segundo o Cambridge Dictionary imersão é:
o fato de tornar-se completamente envolvido em algo;
o processo de aprender uma língua ou habilidade usando nada mais do que a língua, ou a habilidade.
"Jeff, então eu preciso 'estar em contato' com o idioma o tempo todo?" Sim e não. A imersão não se trata de estar em contato 24 horas, mas sim de ter exposição à língua alvo com a maior frequência possível, e por diversas mídias. Quanto mais contato o aluno tiver com a língua, mais rápido ele se tornará fluente. "Mas como faço isso? Não tenho dinheiro para fazer intercâmbio em um país que fala inglês." E aqui chegamos a mais um mito, de que para aprender um segundo idioma é preciso viver em um país que fale aquela língua.
Hoje mais do que nunca a internet tornou possível a aquisição de uma língua estrangeira independentemente do lugar onde você esteja. É possível ter a experiência de estar em qualquer lugar do mundo no conforto do seu quarto. Aqui estão algumas atividades que você pode fazer:
Quem pensou que aprender uma língua poderia ser tão prazeroso, não é mesmo? Pois é! Você já conheceu alguém que aprendeu um idioma jogando videogame? Eu já, e mais de um. Este é um claro exemplo de imersão. Quem é gamer costuma passar horas por dia jogando e interagindo com pessoas na língua alvo, e a probabilidade de melhorar a fluência no idioma fazendo isso é muito alta. Então ajuste o seu console para a língua que você estuda, conecte-se com falantes do idioma e divirta-se!
Algum cinéfilo por aí? Esta é outra atividade excelente para aprender idiomas. Hollywood continua sendo a principal indústria cinematográfica do mundo, tendo filmes de todos os gêneros e estilos, mas não é a única. Outras grandes indústrias de filme existem, facilitando a vida de estudantes de diferentes idiomas. As vastas cinematografias brasileira, inglesa, indiana, francesa, argentina são apenas alguns dos exemplos. Além disso, séries também são muito populares. Plataformas como a Netflix e a Amazon Prime revolucionaram a maneira que assistimos esta categoria de mídia. Se o aluno está em níveis mais iniciantes — A1, A2 ou B1 — é uma melhor ideia assistir séries e desenhos. O importante é que o aluno assista na língua alvo e com legendas naquele mesmo idioma. Estudos indicam que ver um vídeo com áudio original, mas legendado em nossa língua, resulta em uma aquisição mínima no idioma estudado.
Esta se tornou a minha atividade favorita ao longo da minha carreira, tanto desde a perspectiva de professor, pois existem vários benefícios comprovados, quanto do ponto de vista de estudante de línguas, pois estudo outros idiomas e ouvir podcasts apresentou benefícios palpáveis. Estas mídias são uma ferramenta maravilhosa, visto que o aluno pode escolher nível de dificuldade, assunto, duração, língua, sotaque e outros. Se, por exemplo, o aluno é profissional da área de saúde, ele pode ouvir programas neste campo. Se, por outro lado, tenho uma aluna que é artista, posso indicar programas voltados às artes, e assim por diante. Podcasts são também práticos e adaptáveis, pois podemos ouvi-los em qualquer lugar e até mesmo fazendo outras atividades simultaneamente.
Por que coloquei fale com nativos aqui? Quem me conhece sabe que sou o 'teacher lingua franca', por defender que línguas com presença em várias regiões do mundo são idiomas usados para a comunicação internacional, ou seja, elas não têm dono, são línguas de todos. Mas, reconheço a importância de estar em contato com nativos para se expor ao ritmo, pronúncia, palavras e expressões faladas naquele lugar. Quando conversamos com pessoas que falam o inglês como língua materna, por exemplo, a experiência é rica em termos linguísticos, por se tratar da língua que eles usam diariamente para fazer todas as suas atividades. Ainda assim, tente ter como amigos nativos de diferentes partes do mundo e não apenas do eixo Estados Unidos — Reino Unido. Canadá, Austrália, Índia, Nigéria, África do Sul, Nova Zelândia são todos países que possuem o inglês como língua nativa e muito diferentes entre si. O mesmo para o português. Além do Brasil e Portugal existem muitos países na África e até mesmo na Ásia que se comunicam neste idioma como primeira língua.
Quando essas dicas se tornarem componentes do seu cotidiano, você perceberá um salto expressivo das suas habilidades com a língua, e passará a fazer parte daquela minoria que pratica a imersão. A minoria que tomou o atalho mais confiável e seguro rumo à fluência.