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NA ADOLESCÊNCIA
A amizade de dois adolescentes destoa
das violências juvenis no ambiente escolar.
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A amizade de dois adolescentes destoa
das violências juvenis no ambiente escolar.
Educador, linguista, escritor, estudante de antropologia e mentor de jovens
25 de fevereiro de 2023
O sol nos campos floridos belgas e a harmonia do clarinete acompanham a amizade transcendental entre dois meninos de 13 anos. Léo (Eden Dambrine) e Rémi (Gustav De Waele) são inseparáveis e complementares, como flores que recebem os raios solares ou instrumentos musicais acariciando ouvidos atentos. Na primeira parte do filme somos convidados a adentrar a intimidade deste primeiro amor puro, em que brincadeiras de soldado, corridas entre as plantações e admiração mútua dão o tom da delicada narrativa do diretor Lukas Dhont.
Dentro dos contextos familiares, os jovens não encontram nenhum impedimento para explorar os seus sentimentos. Léo dorme diariamente na casa do amigo, onde os momentos de convivência fortalecem os seus vínculos, sugerindo o vigor inabalável desta relação. Tudo muda quando os dois chegam à escola, sendo então confrontados pela homofobia e o bullying dos colegas. Habituados a contatos físicos, Léo e Rémi não escondem sua intimidade nos primeiros dias de aula, algo que eles não enxergam como estranho ou impróprio. Porém, o ambiente escolar se mostra um lugar exigente a certas expectativas de comportamento, empurrando-os a uma heterossexualidade compulsória. Como um verão que chega ao fim, levando consigo o calor e a expansão das vidas pulsantes sob o sol, a segunda parte do filme é marcada pela chuva, o frio, a escuridão e a ausência de Rémi.
O que antes era uma história de amor e descobertas da adolescência, se transforma na jornada de um rapaz de 13 anos lidando com o luto e o remorso de ter abandonado o seu melhor amigo. Rémi se mostra desde o começo do filme um menino vivamente sensível, caráter que se manifesta através de sua dedicação ao clarinete, destemor de falar sobre seus sentimentos e a explosão de ira na primeira vez em que Léo não o espera para irem juntos de bicicleta ao colégio. "Normalmente você me espera, mas desta vez você me largou.", exclama o rapaz antes de ter um ataque de choro e cólera contra o amigo. Léo, por outro lado, escolhe o lado dos valentões, e para se proteger do bullying se afasta de Rémi e entra para o time de hóquei.
Antes a amizade dos meninos destoava das outras relações em muitos sentidos, inclusive na fala. Os diálogos entre os dois se faziam em francês, contrapondo o holandês, idioma oficial do colégio. Quando Rémi decide partir, o silêncio exterior e interior acompanham Léo na busca de aceitações, das quais as mais importantes são a de ser quem é e de aceitar que o amigo não estará presente nas tristezas e felicidades vindouras.
Em seu segundo longa-metragem, Lukas Dhont de apenas 31 anos encantou plateias e críticos de todo o mundo, ao tratar de maneira poética um tema singelo e transcendental como a amizade entre dois meninos, enquanto as atuações de Eden e Gustav elevaram o projeto pela brutal naturalidade em transmitir com profundidade as complexidades das paixões na adolescência.
Um filme indispensável, para dizer o mínimo. Em sociedades patriarcais, nas quais a masculinidade é definida e exigida como apenas uma: forte, violenta e distante dos sentimentos, as lágrimas que correm pelas bochechas de Rémi, seu pai, e Léo, quando este se dá conta de ter feito uma péssima escolha, nos revelam masculinidades múltiplas, saudáveis e visceralmente mais humanas.
Assista ao trailer do filme aqui.
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