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Educador, linguista, escritor, estudante de antropologia e mentor de jovens
2 de fevereiro de 2023
A Colômbia é o segundo país mais biodiverso do mundo. Isso significa que, entre todos os 193 Estados-Nação, os 1.139.00 km² atravessados pela Cordilheira dos Andes, se situam na segunda posição entre aqueles que possuem maior diversidade de plantas e animais. Porém, algo faz com que o país sul-americano seja particularmente especial, quando o comparamos com o Brasil, primeiro lugar da lista. Com a extensão de apenas um estado brasileiro, a terra de Gabriel García Márquez condiz com a imaginação de seu principal escritor: ela é puro realismo mágico. Para um brasileiro, vivendo em uma nação 8 vezes maior do que a vizinha, para que se sinta uma mudança considerável de fauna e flora, é preciso o deslocamento de centenas de quilômetros, enquanto para o colombiano, viajar apenas uma hora o transporta para climas, comidas e até mesmo costumes completamente novos. É neste país palpavelmente utópico onde nasceu o jovem ambientalista Francisco Javier Vera, hoje com 13 anos. O puro crioulo há alguns anos encanta o mundo com sua voz doce e infantil e a sua maturidade e consciência ambiental ausente em muita gente grande.
Independentemente de qual nação ocupa a primeira, segunda ou terceira posição na lista dos países privilegiados por sua biodiversidade, algo que une o continente americano da Patagônia ao Alasca é a sua exuberante riqueza em plantas e animais. Este imenso continente, ainda que acometido pelas mais variadas formas de violências e saques de seus recursos naturais, conserva nos corações de seus habitantes, dos quais Vera é um representante notável, uma relação íntima com o Planeta Terra. Nós, latino-americanos, sabemos ser uma peça fundamental para a preservação e recuperação do ecossistema terrestre; somos sementes crioulas que ao germinar causamos um grandioso impacto positivo não apenas regionalmente mas no planeta todo.
"Greta Thunberg me serviu de inspiração, mas é mais difícil fazer ativismo pela natureza na Colômbia do que na Europa", desabafou Francisco há alguns anos, se referindo à ativista climática sueca e às dificuldades enfrentadas pelos defensores da natureza na América Latina. A região é a que mais assassina líderes ambientais, agricultores e indígenas. Este dado está diretamente relacionado à riqueza de nossos solos. Chiquinho (apelido que lhe dei de maneira muito carinhosa) também teve sua parcela de ameaças via Twitter e outras redes sociais, confirmando os índices inaceitáveis de violência contra o povo latino-americano. Vera, vive hoje na Espanha onde participa do quadro El Niño Y la Tierra ao lado de Gran Wyoming no programa El Intermedio.
Com uma eloquência prematura, Vera ganhou notoriedade primeiramente em seu próprio país ao discursar em frente ao senado colombiano sobre a importância da preservação do meio ambiente e de votar contra a reforma tributária.
Em 2021, então com apenas 11 anos, Chiquinho participou da COP 26, em Glasgow, Escócia, onde se encontrou com Greta. Dessa vez foi a jovem sueca que expressou a sua admiração pelo colombiano: "Você é uma inspiração para muitos jovens", afirmou a ativista.
Em 2022, novamente presente na cúpula, agora a COP 27 no Cairo, Egito, Vera participou do primeiro Pavilhão das Crianças e da Juventude da história do evento, na qual jovens de diferentes países e regiões do mundo informaram, discutiram, opinaram e propuseram soluções para a crise climática. Chiquinho expressou seu descontentamento com o descaso dos adultos com as contribuições das novas gerações: "Vivemos em uma sociedade em que o ser humano se crê superior ao resto dos animais, os homens superiores às mulheres e os adultos superiores às crianças." Tendo fundado com apenas 11 anos o coletivo Guardianes por la Vida, que hoje conta com mais de 400 jovens espalhados pela América Latina, Chiquinho comprova que é preciso combater esta cultura de adultocentrismo.
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Francisco, Greta e cada vez mais jovens ao redor do mundo, demonstram a partir de palavras e ações sua conexão profunda com a Mãe Terra, reafirmando que além de este ser o nosso único planeta, é um planeta acolhedor, rico e agradável de se viver. A mocidade corre na contramão dos bilionários que apenas se interessam em perfurar a Terra para extrair até o último minério que descansa no seu solo, enquanto propõem viagens espaciais milionárias para podermos escapar deste lugar terrível.
A juventude sabe que o nosso lar tem solução e que é um lar pelo qual vale a pena lutar. Em 1997 o pensador e cantor Chorão escreveu: "Eu vejo na TV o que eles falam sobre o jovem não é sério. O jovem no Brasil nunca é levado a sério." 26 anos depois é possível parafraseá-lo dizendo que o jovem no mundo nunca é levado a sério.
Ainda assim, o esforço descomunal de crianças e adolescentes, os levam a ganhar cada vez mais espaço para expor seus pontos de vista. Vera na Colômbia, Greta na Suécia, Txai Suruí no Brasil, Xiye Batista no México são alguns exemplos dessa geração ativista. Resta saber quando suas vozes terão mais relevância que das mineradoras e petroleiras que destroem o nosso lar.
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