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Educador, linguista, escritor, estudante de antropologia e mentor de jovens
2 de novembro de 2022
Existe um velho ditado que aparece em muitas línguas que diz: "Um problema compartilhado é um problema dividido ao meio". De certa forma, pode-se dizer que esta é uma das premissas do 'counseling', uma prática psicoterapêutica que auxilia as pessoas a encontrarem a melhor solução para seus problemas ou mesmo para suas dúvidas e incertezas. No entanto, não confunda 'counseling' com dar conselhos. Não se trata de dizer a outras pessoas como agir, nem de fazer as pessoas se sentirem melhor. Esta terapia é uma abordagem humanística de saúde mental que visa ajudar as pessoas a se tornarem a melhor versão que podem ser de si mesmas.
Este tipo de terapia é uma prática crescente na América Latina, embora já tenha um grande reconhecimento na América do Norte e na Europa. É uma ferramenta magnífica para adolescentes que estão em uma fase de transição chave na vida, quando muitas decisões precisam ser tomadas e muitos conflitos superados. O conselheiro, neste caso, é um adulto maduro, estudioso da mente e do espírito humano, preferencialmente com ricas experiências de vida, que poderá então estimular o adolescente a refletir sobre sua vida a fim de tomar as melhores decisões para o início da vida adulta.
Considerando que o 'counseling' enquanto disciplina só surgiu entre os séculos XIX e XX, podemos fazer uma associação desta prática com práticas muito mais antigas de grupos humanos que viviam em pequenas comunidades, como aldeias ou tribos. Muitos grupos, de fato, continuam vivendo assim, como comunidades indígenas e quilombolas nas Américas. Nesse sentido, o aconselhamento pode consistir em encontros grupais ou individuais, onde os jovens recebem ajuda de idosos mais experientes de sua comunidade e, assim, têm uma visão mais clara de como agir de forma mais assertiva no mundo.
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No ambiente escolar, o orientador se torna uma espécie de mentor ou coach do adolescente, mostrando-lhe o leque de oportunidades profissionais a seguir, quais caminhos educacionais são possíveis para atingir os objetivos traçados, discutir sobre a importância de um ano sabático, planejar um programa de intercâmbio, entre outros. Mas a terapia não para por aí. O conselheiro, como um profissional psicoterapeuta, também tem a possibilidade de trabalhar questões socioemocionais com o adolescente, como uso de drogas, sexualidade, relacionamento com os pais e outros adolescentes, gravidez na adolescência, saúde mental, depressão, violência, bullying, redes sociais, pressão, entre outros.
Afinal, a própria reflexão que o adolescente faz sobre o futuro é terapêutica em si, portanto as questões socioemocionais nada mais são do que outra parte indispensável para o desenvolvimento integral desse jovem. Além disso, as habilidades interpessoais, essenciais para que esse adolescente se torne um adulto plenamente realizado e útil à comunidade em que vive, também são trabalhadas nas sessões com o orientador.
Assim como um psicólogo, um psicoterapeuta e um psicanalista, o conselheiro não oferece a cura e a solução para todos os problemas do cliente. Na verdade, o papel desse profissional, que também estuda teóricos como Sigmund Freud, Carl Jung e os pais da prática do 'counseling', Carl Rogers e Abraham Maslow, é o de um abridor de olhos em quem o paciente pode confiar inteiramente. Através de conversas profundamente reflexivas, os praticantes deste tipo de terapia da fala ajudam os clientes a encontrar dentro de sua mente consciente e inconsciente as respostas para seguir seus caminhos para a autorrealização, sempre de forma empática, sem julgamento e comprometida com o total sigilo de sessões e informações sobre conversas com o cliente, mesmo que seja menor de idade. Existem algumas exceções em que os pais dos adolescentes serão contatados para discutir os detalhes da conversa, e geralmente ocorrem quando o adolescente está em risco de vida ou de outras pessoas.
Considerando que os adolescentes geralmente têm grandes dificuldades em se abrir com os pais, pessoas próximas e até com outros adolescentes, a relação com um conselheiro, que apesar de ser imensamente empático e amigável, ainda é um profissional no qual o jovem tem a absoluta confiança de que não há possibilidade de 'vazar as conversas', 'fofocas' ou mesmo 'julgamentos' por parte do terapeuta, o que lhes dá maior liberdade e tranquilidade para expor suas inseguranças e encontrar as melhores soluções com o profissional de saúde mental.
O gênero, origem geográfica, raça ou sexualidade do profissional pouco importa para a terapia, mas como mencionado acima, é preferível que esse terapeuta não apenas leia muito sobre a mente humana, mas também tenha vivenciado ele mesmo situações adversas, que os possibilitaram a ter a bagagem necessária para lidar com os mais variados tipos de situações pelas quais o jovem possa estar passando. Questões de diversidade, como raça, orientação sexual, identidade de gênero e afins, sempre devem ser tratadas com a maior empatia e julgamento zero, pois geralmente são as questões com as quais os jovens acham mais difícil se abrir. Reforçando, então, a necessidade de que o círculo de amigos do terapeuta seja amplo, diversificado e que tenham vivenciado situações de vida complexas e desafiadoras.
Em suma, o aconselhamento é uma ferramenta essencial na vida do adolescente, podendo mesmo marcá-lo como um 'rito de passagem', em que o jovem passa a ver a vida de uma forma mais madura e estruturada, e onde o desejo e a ânsia de correr perigo ainda pode existir, mas esse adolescente primeiro colocará o pé no rio para verificar onde está o fundo, antes de mergulhar de cabeça nele.